Para ler ouvindo
Chegou em casa cedo da noite. As dores junto. As dores bem perto do peito e o peso delas afundando tudo em direção ao chão. 11º andar. Afundando em direção ao chão. Botou uma única música para tocar em repeat. Vejo luz. Usou a tinha velha para improvisar aquarela e improvisar novos quadros que não terminavam nunca. Mas pintou em papéis, no chão. O silêncio e as dores junto. A música em repeat. Vejo luz. Vejo luz em todo lugar. Os borrões azuis nos papéis e a cor nenhuma do chão e das folhas de ofício. As dores empurrando em direção ao chão. 11º andar. O chão longe perto. Vejo luz. Fez céus. Pintou céus em aquarela como se fosse dia, como se houvesse luz agora. Vejo luz. A música repetia. Nem lembro quanto tempo levei pra chegar aqui. Amanhã vai tentar se alimentar do que vivi. Até aqui. Até aqui, as dores pisando no peito e empurrando para o chão. Empurrando-a para o chão. Eram já mais de dez céus. A música repetia. Vejo luz. Sei que onde estiver, os meus passos vão levar a algum lugar. E tinha estado menos estática. Pintava mais. Usava os dedos e mais azul. A tinta a acabar e os céus a acabarem logo. Vejo luz. A música não ia parar de repetir. A noite ficava mais noite. Vejo luz. Vejo em todo lugar. O silêncio pesava junto com as dores e as costas – todas curvadas por cima das folhas de ofício. Azuis. Um chão azul. As dores empurrando ao chão. 11º andar. Talvez fizesse isso até o amanhecer. Vejo luz.
Lá fora, um céu sem azul nem luz tinha uma lua que sorria um sorriso amarelo.
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