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Por que ler e escrever

Eu nunca havia pensado em escrever nem publicar livros. Porque nunca achei que tivesse alguma história realmente interessante para contar. Achava que, livros, só se contassem histórias capazes de convidar as pessoas a lê-las, a ouvi-las. Eu mesma não tinha nenhuma história assim. (Nem tenho, ainda).

Comecei a escrever textos que não contavam história alguma, que só preenchiam vazios (de todos os tipos), e é o que tenho feito até hoje. Ao longo dos anos, descobri que os escrevia como que para ficar me olhando no espelho e entendendo melhor o que eu via nesse reflexo. Nem sempre funcionava.

Continuei escrevendo excessivamente para pouquíssimas pessoas que me liam. Quando o mundo virtual foi ficando grande, meu número de leitores foi de pouquíssimos a poucos. Eu tinha uns três e passei a ter uns… cinco. O número que mantenho hoje. E o que passou a me impressionar foi alguns desses cinco me escrevendo na sequência: tinham se visto nas minhas palavras. Tinham se encontrado ou se perdido mais ainda enquanto me (se) liam. E se eles ficavam assustados com isso, eu, sinceramente, sabia menos ainda o que fazer com o meu próprio susto.

E talvez tenha sido por isso que tive vontade de publicar o livro. Porque era capaz que isso acontecesse muito mais, por aí. E porque eu já tinha descoberto, como leitora, que a arma mais poderosa da literatura é essa mesma: a empatia. O encontro.

Alguns autores me fizeram ter experiências marcantes enquanto eu os lia, e não por conta da história que contavam, necessariamente, mas por causa das ideias e das dores, do tamanho dos amores e da solidão. Os livros de Daniel Galera e de Marçal Aquino me apunhalaram e me abraçaram diversas vezes. Alguns, eu vou reler para sempre. Outros eu nunca mais tive a coragem de folhear – foram livros duros comigo.

E, já há algum tempo, esse é um dos motivos que mais me incentivam a ler. E, depois do livro publicado, e dos momentos que vieram antes dele, passou a ser o motivo de eu continuar escrevendo, também, mesmo que sinta que não tenho muito a dizer. Acho mesmo que não tenho tanto mais.

Como se agora eu estivesse ainda mais convencida de que o que a gente mais quer e precisa é um pouco mais de encontro, de espelho, de mais eco. Menos solidão e menos silêncio. Mesmo que esteja tudo errado por dentro e por fora da gente. Como se precisássemos de mais ouvidos para nossos medos, e de mais olhares cúmplices – inclusive para o que não for certo. Ler e escrever me dá tudo isso.

Vejo cada vez mais de nós fazendo essa descoberta (ninguém me avisou antes, por isso minha demora). Uma descoberta irreversível, que ninguém desaprende. Por isso a literatura. Ela preenche todas as lacunas.

Nota da edição: Beatriz Madruga é escritora, lançou um livro lindo que você pode baixar aqui.

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