E me disse que não daríamos certo, que deveríamos ficar por aqui, disse, terminar por ali, porque éramos de universos completamente diferentes. Somos, é que somos de universos completamente diferentes, ele disse.
E eu não sabia o que isso significava, exatamente, ou se realmente significava algo. Se era uma frase inventada que poderia fazer algum sentido, causando pouco impacto, dando menos susto, ou se queria dizer com sinceridade isso: que éramos (somos) de universos completamente diferentes.
E eu nem sabia o que poderia dizer ali. Eu nunca tinha parado para pensar de onde vínhamos, nós dois, se nossos planetas se encontravam ou se se pareciam, se por acaso eram o mesmo ou não. E se nunca me perguntei isso, a resposta já estava dada. A frase era para dizer coisa nenhuma, mas falando o óbvio: que não ficaríamos juntos, e pronto.
Não ficamos. Nunca mais nos vimos, nem nos falamos. Universos diferentes falam línguas diferentes, não teria por que insistir em alguma conexão depois. Ele disse querer estar por perto, achava mais civilizado, me gostava, e etecetera(s). E eu ouvindo apenas uma outra frase de efeito, sem sentido próprio. Aliás, sem propósito em si mesma. Ele queria uma despedida sem escândalos, era só. E que eu me convencesse que essas frases estavam realmente dizendo alguma coisa, para assim eu concordar com nosso fim.
As frases vazias apagaram qualquer saudade que eu podia sentir, mas justo por causa delas descobri, e, pois é, tive de concordar: nós éramos de universos completamente diferentes. Porque eu nunca poderia mentir com as palavras, nem usá-las para velar minhas verdades. E, por isso, foi boa a resolução: a de nunca mais falar para ele.
Nota da edição: Bia Madruga é escritora e está preparando um ebook para ser lançado em breve.
Pesado. Gostei. O tema é um tanto lugar comum, mas a abordagem é bem original e sincera. E pesada. Parabéns!
Texto triste! Não gosto da palavra “nunca”. Para mim essa palavra deveria ser banida do nosso vocabulário e das nossas mentes. Ela faz doer o coração em casos assim. Nunca é muito tempo. Nunca não existe.
Mas, gostei muito do ínicio do último parágrafo: “As frases vazias apagaram qualquer saudade que eu podia sentir, mas justo por causa delas descobri, e, pois é, tive de concordar: nós éramos de universos completamente diferentes”.
Muito bom o texto. Gostei muito.