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Do medo que tenho desta mulher

Tenho medo do jeito como ela me olha, cheia de sorrisos, e da forma como ela não me olha, e sorri consigo também.
Tenho medo das palavras que ela me diz, se são todas verdadeiras ou não. Tenho medo de elas serem todas verdades e eu ter de lidar com as boas declarações que ela me faz.
Tenho mais medo de não serem verdades e de depois eu ter de lidar com a ausência das declarações que ela tem feito.
De um futuro sem ela, eu tenho medo.
As coisas que ela me diz, tenho medo. De como ela me quer por perto, enquanto vejo que ela aprendeu a bastar-se em si mesma – e já faz tempo que ela aprendeu isso.
De como eu sou importante para ela, para nós, de como o nós é maior do que ela, ela me diz, enquanto eu vejo sua vida sendo tocada e seguida sem minha interferência. Sem que eu saiba o que ela realmente quer.
Tenho medo de descobrir exatamente o que ela quer da própria vida.
Pergunto. Ela não responde tudo.
Ela sustenta silêncios que eu não sei o que significam.
Tenho medo dos sorrisos silenciosos que ela me manda, que me mostra vez em quando.  Pois às vezes ela sorri quando tudo fica meio desgraçado. E também fica cética quando o presente e o futuro parecem ir por dentro dos planos. Tenho medo de suas reações, imprevisíveis e únicas.
Tenho medo de tudo que ela possa estar pensando, de tudo que um dia ela possa me dizer.
Tenho um medo absurdo dos planos que ela faz e dos planos que ela não tem – esses ela nunca me disse.
Tenho medo de eu não ser seu plano, seu sorriso silencioso, de ser suas palavras pensadas em voz alta.
Tenho um medo absurdo dessa mulher.
E por isso eu não a esqueço.
Nota da edição: Bia Madruga é escritora e está preparando um ebook para ser lançado em breve.

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