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CRÍTICA: Conheça a mágica e presunçosa Sombra e Ossos, nova série Netflix

A Netflix vem acompanhando bem de perto o crescente mercado de livros de fantasia, com universos mágicos complexos e personagens carismáticos, afinal, as adaptações dessas franquias literárias de sucesso rendem – quase sempre – boas obras audiovisuais. E foi olhando pra isso que a gigante do streaming lançou na última sexta-feira (23) Sombra e Ossos, a sua mais nova série advinda da literatura fantástica. A produção é baseada no Grishaverse, universo mágico da escritora Leigh Bardugo e a sua Trilogia Grisha, que ainda conta com mais duas publicações, duas séries derivadas e cinco contos.

Mas, adaptar uma série de livros amados é um dos atos mais complicados que existe no audiovisual. Altere demais os acontecimentos e arrisque a ira dos fãs apaixonados pelos livros, mude muito pouco e corra o risco de perder a magia da história por ser fiel a acontecimentos que só funcionam nas páginas. Eric Heisserer, roteirista responsável por adaptar a abra da Leigh Bardugo parece ter encontrado o equilíbrio perfeito em sua empreitada.

Sombra e Ossos acompanha a jovem órfã Alina Starkov (Jessie Mei Li), que descobre que tem um poder mágico cobiçado. Com esse fato vindo à tona, ela acaba despertando a atenção do General Kirigan (Ben Barnes) para ser treinada nos caminhos mágicos, ao mesmo tempo que perigos surgem quando seu amigo e amor de infância, Malyen Orstev (Archie Renaux), aparece no caminho do General Kirigan. Tudo isso ambientando em um universo rico e assolado por uma dobra das sombras, uma artimanha mágica que deu errada e acabou por dividir uma nação. A princípio tudo parece clichê, com personagens que já foram explorados em outras obras literárias e problemas já desgastados na ficção.

No entanto, não demora muito para que a série se torne envolvente e mostre que tem sim escolhas inteligentes, atuações grandiosas, figurino e design de produção que passeiam entre o exuberante e o campestre. E mesmo que nunca chegue a ser genuinamente sangrento e ou violento, Sombra e Osso tem seus momentos de ação que surpreendem, especialmente quando se lança em toda escuridão da dobra.

O único grande problema da série é quando ele força seu universo e acaba por ser presunçosa, um grande exemplo disso é o uso dessa língua ficcional usada pelos personagens em alguns momentos da história, algo que lembra o Russo (a série tem uma inspiração na Rússia Czarista), tornando essas passagens fortemente desinteressantes. Outro grande problema é a personalidade antiquada, machista e masculinista dos personagens homens da série, que chegam a ser desconfortáveis em muitos momentos. E ainda que os livros tenham sido escritos em 2015, antes de toda forte discussão sobre representatividade e machismo na ficção, a série foi adaptado no último ano, o que permitiu um novo olhar sobre esses detalhes da história.

Fora isso, o show apresenta um trio de personagens de uma duologia de livros da Leigh Bardugo, que tecnicamente ocorre após os eventos da trilogia Sombra e Ossos, que foram introduzidos na adaptação pelo showrunner Eric Heisserer, ele encontrou uma maneira sofisticada de incorporá-los nos eventos da trama. Kaz (Freddy Carter), Jesper (Kit Young) e Inej (Amita Suman) acabam se envolvendo na história de Alina, personagens que transitam entro o heroísmo e a vilania com muita irreverência e representatividade – inclusive, um deles LGBTQIA+.

Por fim, embora Sombra e Ossos possua escolhas obvias, ela caminha por toda sua temporada de forma coesa e assertiva, apresentando um bom ritmo narrativo e um elenco cativante, que consegue entregar com muita verdade as histórias que se propõem. Não é uma série memorável, mas é uma boa obra para preencher a lacuna da ficção de fantasia enquanto algo realmente novo não surge.

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