Maniac é a mais nova minissérie original da Netflix e há quem diga que foi feita na medida certa para ganhar prêmios. Com nomes de peso envolvidos em sua produção e elenco, pela qualidade técnica é perceptível o investimento feito neste trabalho. Apesar disso, muitos estão dando-a status de “ame-a ou deixe-a”, uma vez que mistura distúrbios mentais e ficção científica, milhares de gêneros e referências transformando tudo em uma grande salada chuchu com pimenta, cheia de altos e baixos atrativos para alguns, cansativos para outros.
Contém Spoilers de Leves!
1. Distopia e mundo paralelo
Tudo parece muito comum no primeiro episódio, já no seguinte notamos algumas diferenças nos figurinos e na tecnologia, principalmente ao que remete os anos 70 e 80. No terceiro fica bem claro, que algo de “errado não está certo”. Não apenas pelas roupas vintage que ligam o nosso alerta, mas também por conta de diversos paradoxos no contexto, um deles é o laboratório com monitores de tubo, detentor do desenvolvimento de uma inteligência artificial empática e independente. Contudo é quando surge a Estátua da Liberdade na figura de um anjo, que o espectador percebe claramente aquele universo como uma realidade paralela e completamente distópica.
2. Tempo e sensações
Como canal de streaming a Netflix não precisa seguir uma grade horária, o próprio público assume o risco do tempo que está disposto a gastar. A minissérie de 10 episódios, com durações variáveis de 27 à 47 minutos, reforça suas características peculiares quando une gêneros escondidos, que despertam os mais sinceros “WTF”. Os dois primeiros episódios são voltados aos protagonistas, seus problemas pessoais e como lidam com eles. Tudo isso parece incrivelmente dramático, até o quarto episódio vir com um lêmure e uma carga de comédia feroz, sem esquecer os toques de gore tarantinescos dentro de uma série de ficção científica a la Black Mirror. E ainda jogo na mescla uma certa influência do cinema noir tanto pelo ritmo, quanto pela estética. Nada tradicional, a série une momentos incrivelmente entediantes e outros tantos maravilhosos. A história se passa entre os sonhos e o mundo real, por um lado os sonhos podem parecer aleatórios e pouco objetivos, grandes metáforas para extrair-se apenas detalhes, enquanto as cenas do laboratório são dinâmicas e objetivas.
3. Atuações incríveis
Muitos conhecem a parceria de Emma Stone e Jonah Hill do filme Superbad. A diferença é que agora Emma é atriz oscarizada e Jonah está quase irreconhecível, com muitos quilos a menos e vários papéis a mais em seu currículo. Este em especial exige muito mais do que seu estilo tradicional de comédia. O seu personagem, Owen, possui esquizofrenia e luta o todo tempo para diferenciar o que é real ou fruto de sua mente. Já Annie (personagem de Emma) tem muitos dramas e traumas dos quais não consegue superar. Os intérpretes ainda assumem diversas personalidades dentro dos sonhos, mas sem perder a essência e conexão com seus personagens do mundo real acrescentado a eles camadas e mais camadas. E claro, não devemos esquecer dos consagrados e incríveis coadjuvantes, que têm papéis igualmente fundamentais para o desenrolar da trama Sally Field, Justin Theroux e Sonoya Mizuno.
4. Referências
As referências a outras obras são muito importantes na minha humilde observação. Muitos identificam apenas as interferências dentro dos sonhos, mas fora dele também há elementos de outras obras. Mesmo que todos achem uma grande semelhança com a série antológica de Sci-fi Black Mirror, percebi muito do filme “A Origem”. Se levar em conta a influência dos sonhos induzidos e seus significados na vida real e como cada coisinha representa algo, Annie parece um pouco com a figura do arquiteto, pois tem mais consciência de realidade. Outro ponto entre relacionamento de homem e inteligência artificial nos lembra ao icônico “Her”. Já dentro de cada devaneio é possível identificar algumas referências cinematográficas como: Os Infiltrados, Senhor dos Anéis, O Iluminado, Harry Potter, Jogador Nº 1…
5. Visual
Vemos cenários externos bem feitos e locações interessantes, que compõe o visual do futurismo retrô, mas é no laboratório que a magia acontece. A luz sempre saturando alguma cor torna o visual bonito e dinâmico, essa tendência de fotografia com iluminação em gel e efeitos de Duotone, além ser muito bonita aos olhos, combina perfeitamente como o ar setentista/oitentista que a série transmite através de seus figurinos e ferramentas tecnológicas no cenários. As cenas de ação cumpre ao que se propõem e a trilha funciona muito bem em todo o contexto.
E você, vai amá-la ou deixá-la?