Recentemente o potiguar Fanny Rodrigo lançou o videoclipe “Iluminar”. O novo clipe foi gravado na praia de Ponta Negra e é um das quatro faixas do EP “A hora de brilhar”, lançado no mês de março através do edital da diversidade da lei Aldir Blanc.
Para quem não conhece, Fanny é um cantor que une diversos movimentos artísticos. Aos 27 anos, recém completados, se adequa a contemporaneidade em busca de uma transformação estética para fazer sua música ser ouvida por todos. É um artista que respeita e ama a mudança, “sou como minhas músicas, que vão do folk ao clássico e até às batidas de funk, tudo numa mesma faixa”.
Conversamos com o Fanny sobre música, autoaceitação, feedback do público e novidades. Confira:
702: A música “iluminar” é um das quatro faixas do EP “A hora de brilhar”, como surgiu a inspiração para compor esta canção?
Fanny: A faixa iluminar surgiu como uma espécie de conclusão da leitura de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. Nesse processo eu entendi que aquele espaço em que eu vi Macabéia não servia mais para mim. Eu descobri os ‘segredos’ da sociedade e como eu tinha que lidar com as pessoas e não me deixei ficar naquele espaço que me reservaram. À mercê deles. Essa faixa é como se eu dissesse para mim mesmo, “ei, acorda! Você não é Macabéia. Você pode viver a vida de uma maneira menos agressiva e menos dependente”. Quem conseguiu vencer foi seguindo esse caminho e a minha missão agora na música é dizer o que nunca foi dito e mostrar esse caminho. Esse caminho existe e é possível.
702: O clipe foi lançado no dia do seu aniversário e conta com roteiro escrito por você junto com o Thiago Tavares. Fala pra gente como foi esse processo de roteirização e gravação do clipe.
Fanny: Quando eu e Thiago sentamos para fazer o roteiro do clipe a gente tinha que levar em consideração toda a situação da pandemia. Então não dava pra ter grandes produções. Levamos isso para a tela. A solidão. A quietude que me levou a um processo de redescoberta e de reencontro comigo mesmo. A pandemia me trouxe de volta pra Natal, a quietude e a pandemia me de trouxe o EP.
E o clipe acontece em Ponta Negra, lugar onde minha vó e meu pai cresceram e me falavam sobre como a praia eram dos moradores. A gente vê hoje uma praia urbanizada. Uma praia que deixou de pertencer aos pescadores. É como eu falo na letra de Iluminar: a felicidade é clandestina. (Inclusive, esse é o título de um outro livro de Clarice)
702: O EP “A hora de brilhar” foi lançado no mês de março. como tem sido o feedback do público e como você se sente com este lançamento?
Fanny: O EP foi lançado no dia 3/4, a soma dos números é o número 7, que também é o número da sorte de Clarice. E, no momento que o EP foi lançado, a gente estava no pico da pandemia, e tinha muita gente morrendo. Muita tristeza e muita frustração.
Hoje, eu consigo perceber o quanto isso impactou no acolhimento do meu EP. As pessoas entenderam Clarice ali e também me reconheceram ali.
702: Este seu último lançamento é um convite ao acolhimento e a autoaceitação, qual a importância de colocar isto em pauta?
Fanny: O brasileiro não se conhece e não se valoriza. A gente costuma gostar tanto da cultura americana, europeia e acaba não entendendo que essa cultura estrangeira se alimenta da nossa matéria prima. É um processo antigo. É um plano. Acredito que que se o brasileiro soubesse o quanto é potente, a gente estaria vivendo uma outra realidade. Então é preciso olhar pra si. Eu preciso dizer para as pessoas olharem primeiro para dentro. E isso é meio que uma forma de defender a cultura do meu estado, a cultura do meu país e fazer com que as pessoas se conheçam, se descubram e se amem. Se amem! Antes de procurar amor em outras pessoas é preciso se gostar, olhar pra dentro. Só assim podemos cultivar relacionamentos saudáveis.
702: O que mais vem por aí?
Fanny: Eu tô hoje trabalhando em um projeto para a produção de um mini-doc sobre o processo de concepção do EP. A ideia é explicar as faixas por meio de analogias com o livro de Clarice.
Também já estou trabalhando o conceito do próximo EP, que será focado nessa redescoberta da autoestima.
Confira o clipe:
Ficha Técnica:
Roteiro: Fanny Rodrigo e Thiago tavares
Imagens, Cor e Edição: Jeferson Miller
Jornalista formada pela UFRN, atua como Comunicadora Criativa e Produtora Cultural comunicando projetos artísticos na cidade do Natal há mais de dez anos. É uma das administradoras do blog cultural potiguar Apartamento 702, é ativista gorda, rainha da brilhosidade, dona e proprietária em Comunica Ceci, praticante de yoga. cinéfila e aprendiz de Lu Roller.