O Brasil ganha ares de distopia fascista no clipe da música “Máquina do Tempo”. O vídeo do cantor e compositor nordestino Pedro Rhuas lançado nesta sexta-feira (23) no Youtube, apresenta o artista como um rebelde foragido. A produção foi contemplada pelo edital Sesc Cultura ConVIDA e foi feita de forma caseira durante este período da pandemia.
Com beat do músico potiguar Antonio Bê, mixagem do pernambucano DogMan e suporte da produtora Frika Records, o single foi um dos projetos de Rhuas em 2020, que também lançou o livro “Enquanto eu não te encontro” e covers para faixas como “Canção de Esperança” e “Como Vai Você”. A música “Máquina do Tempo” foi disponibilizada nas plataformas digitais em julho, obtendo no Spotify quase 10 mil streams.
A música foi escrita em 2018 em um momento em que o artista questionava se valia à pena pensar em amor. “Escrevi a música logo após as eleições de 2018. Foi um período em que me senti muito perdido, sem perspectiva. Na época, eu tinha acabado de sair de um relacionamento e me questionava se valia a pena pensar em amor quando meu mundo – e o de tanta gente – parecia estar por um fio. Mas ‘Máquina do Tempo’ me lembrou que o ódio faz isso: faz a gente achar que o amor não é possível só porque eles não querem que a gente ame e expresse nosso amor. Essa é uma música que surgiu como um lembrete para mim mesmo. Para amar e ser quem sou sem deixar o medo calar”, conta Pedro Rhuas.
O clipe foi feito com colagens e recortes de gravações virais em um roteiro feito pelo próprio Pedro Rhuas, direção ficou por conta de Diógenes Nobrega e montagem foi assinada por Franklin Matheus. Com uma letra crítica a “falsos messias”, ataques à democracia e ao terraplanismo em voga no país, o clipe materializa o que antes era apenas sugestionado no lirismo da canção. O artista conta que fazer esse produto em um contexto de pandemia foi muito desafiador.
“A gente tinha uma outra ideia para o clipe: queríamos gravar em algum protesto em Natal, com muitas cenas de beijo entre pessoas LGBTQIA+, uma simulação de opressão do Estado… Mas a pandemia veio com o propósito de nos desafiar criativamente, e assim a gente levou o processo. Foi tudo literalmente caseiro: eu mesmo gravei minhas imagens no quintal de casa, tirei os figurinos do guarda-roupa da minha mãe… Minha equipe maravilhosa e eu nos reuníamos online e íamos conduzindo tudo pelo Meet e WhatsApp. Apesar da saudade do calor humano, foi lindo e revelou o quanto é possível fazer mesmo em condições limitadas”, comenta Pedro.
“Criamos um universo onde o Brasil é controlado por um ditador chamado Grande Messias”, conta Rhuas. De acordo com ele, o Nordeste é independente nesse mundo ficcional e a ideia é explorar o mote em outras produções. “Arte e ficção são modos de questionar a realidade palpável sem obviedade. O clipe fala sobre o Brasil que vivemos, mas utiliza uma maquiagem especial para brincar com isso. Queria dialogar com o público jovem e trazer uma música que, dançante, não perdesse seu apelo político”.
O diretor do videoclipe, o produtor audiovisual Diógenes Nobrega dá mais detalhes do processo. “A pandemia nos fez alterar os planos e construir muito com pouco. O clipe priorizou a busca por um discurso coerente, político e afiado. Passamos um longo período fazendo curadoria das imagens que entraram no corte final, trazendo cenas de protestos, abuso policial, desastres ambientais… Tudo isso foi conectado pela edição de Franklin Matheus, que proporcionou esse balanço entre futurístico e antigo, atual e visionário”, diz.
De acordo com Pedro Rhuas, “Máquina do Tempo” é um projeto único: não vai estar em nenhum EP. “É uma colaboração com o meu primo Antonio Bê no beat, um artista incrível de Carnaúba dos Dantas, nossa terrinha no Seridó, mas tem muita coisa vindo aí, inclusive mais alguns singles e um álbum previsto para 2021… Se tudo fluir como a gente imagina, nosso universo distópico vai se expandir. Não dá pra adiantar demais, só que estou bem animado e que vai ter muita representatividade LGBTQIA+, potiguar e nordestina!”.
Confira o clipe aqui:
Foto: Josy Dantas
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Jornalista formada pela UFRN, atua como Comunicadora Criativa e Produtora Cultural comunicando projetos artísticos na cidade do Natal há mais de dez anos. É uma das administradoras do blog cultural potiguar Apartamento 702, é ativista gorda, rainha da brilhosidade, dona e proprietária em Comunica Ceci, praticante de yoga. cinéfila e aprendiz de Lu Roller.