Mas, verdade, foi só porque eu tive de não ter vergonha de te dizer que, depois de você, minha vida mudou.
Depois de você passar, passado, depois de você passado, meus dias ficaram todos diferentes, um passado presente o tempo inteiro, uma dor carcomendo tudo pelo meu lado de dentro.
Depois que tive dias difíceis e dias mais insuportáveis, e que arranquei os cabelos e as peles e os amores próprios que alguns carregam dentro de si. Eu passei a carregar mais nenhum.
Depois de você, que ficou tudo estragado por todos os lados, e o sorriso desfrouxou, morreu pra dentro. Depois de você fiquei meio morta, meio podre, meio submissa a um tempo que não passava mais, que não passou mais até aqui quase nada.
E ainda tive de assumir que eu vinha perdendo os tempos na vida, o presente, já passado, os anos todos, os meses longos, e aqueles fins de semana em que eu sabia o que você fazia enquanto eu doía mais.
Depois de você, eu como que aprovei meus desgastes, cuspi os dentes como se fossem palavras, e o contrário, e cavei buracos num chão onde eu coube mais que por cima do mundo. Mais que nessa superfície de aqui de agora.
E eu tive de dizer que tudo isso aconteceu depois, depois de você, depois do passado que ainda é presente e do futuro bom que não vem nunca. E eu nem mais espero.
Eu mantive um segredo absurdo que todos sabiam. E sigo fazendo isso.
E depois de você fui toda outra, doída e sem nenhuma espera. Com um futuro de talvez, uma dor insuportável que suportei.
Depois de você, que se acabou tudo, que não existi mais quase nada, fui uma outra. Fiz-me inteira faltando um pedaço imenso, lambi as feridas causando mais comoção do que nojo, e não tive medo de mais nada. Fiquei uma outra. É como se, depois de você, pudesse eu andar sem as pernas. E sem medo nenhum de cair.
Depois de você, estive tão forte depois de frágil e tão grande depois de menor. E ainda consegui ser feliz mesmo triste. (Isso é tão possível.)
Depois de você e depois do depois de você: minha vida ficou outra. Sigo caminhando sem pés e sem pernas e sem cair instante nenhum. Só tropeço rapidamente vez em quando.