Me escreva um pouco mais, me escreva de novo. Quero ver você contar nossa história outra vez, quero ouvi-la e lê-la, quero lembrá-la. Me escreva. Quero ver nossas palavras escritas para que elas sejam testemunhas de tudo o que aconteceu. Para que elas talvez soprem no nosso futuro próximo.
Me escreva. Suas palavras são a lembrança e a garantia que preciso agora – uma recíproca verdadeira. Você me escreve pra ir se vendo e lembrando e tendo um pouco mais de certeza sobre tudo o que poderia ter sido e não foi. (Sua pressa. Me escreva na sua pressa, me deixe escrita sobre ela.)
Me escreva contando da sua felicidade exagerada e fingida de hoje. Vai que eu vivo bem assim também, nesse fingimento exagerado por cima dum vazio. Me escreva sobre o seu vazio, me escreva por sobre ele e por dentro dele. E me escreva para que eu fique menos vazia; assim você continua me preenchendo com palavras. Como antes.
Me deixe escrita no seu silêncio. Meus silêncios esperam que você me escreva mais. Dizem que você pode continuar com isso. Venham outras vezes, você e as palavras, ou só elas, eu aceito. Eu gosto delas tanto quanto gosto… da nossa história.
Pode me fazer isso mais vezes, me escrevendo mais. Eu vou ouvir seus sussurros perdidos, me lendo, e vou ler sobre tudo o que já perdemos, também. Quero ler e ouvir sobre o que está perdido, e também sobre tudo aquilo que colocamos no lugar.
Me escreva. Me deixe escrita em você, e noutros lugares. Eu já te escrevi em excesso.
Nota da edição: Beatriz Madruga é escritora, lançou um livro lindo que você pode baixar aqui.