ATENÇÃO! Este texto contém spoilers, bem de leve!
Uma das adições mais esperadas no catálogo da Netflix desse ano foi lançada na última sexta-feira (26), “O mundo sombrio de Sabrina”, que estreou em meio a expectativas, críticas e comoção dos saudosistas da primeira versão da série. Afinal a personagem que nomeia a produção não é desconhecida do público e o seu retorno para a TV foi mais do que desejado.
Se você é muito novo e não conheceu o grande sucesso do final dos anos 90 “Sabrina a aprendiz de feiticeira” saiba que esse programa foi um dos maiores sucessos da televisão americana na época. Sabrina Spellman, papel consagrado pela atriz Melissa Joan Hart, conquistou o coração da audiência da Nickelodeon e permaneceu no ar por sete anos, foram 163 episódios entre os anos de 1996 a 2003.
O que muitos não sabem é que ambas as séries – a dos anos 90 e a nova versão da Netflix – são inspiradas em uma série de quadrinhos da consagrada Archie Comics, mesma editora que produz os quadrinhos de Riverdale (outra série de grande sucesso e também disponível na Netflix). E é com essa informação que se iniciam os problemas da nova produção.
O primeiro volume dos quadrinhos Sabrina the Teenage Witch (Sabrina a bruxa adolescente, em tradução livre) chegou ao mercado no ano de 1971 e acompanhou a jornada de descoberta do mundo da magia por Sabrina Spellman e como seus poderes poderiam ajudar as pessoas a sua volta. Essa história narrada em quadrinhos é um dos maiores sucessos da Archie Comic e por isso ganhou uma produção televisiva da Nickelodeon nos anos 90. Essa história adolescente e popular continuou sendo produzida pela Archie até 2009.
Foi só em 2014 que a Archie Comics revisita o título e lança uma nova roupagem da bruxa adolescente em Chilling Adventures of Sabrina, trazendo uma pegada de horror para a já conhecida história. O problema é que os quadrinhos não foram tão bem recebidos pelos fãs da já conhecida personagem e encontram nessa nova versão pouca ou nenhuma ligação com a história original. E é essa versão dos quadrinhos que foi produzida pela Netflix.
O problema é que ao revisitar algo já consagrado na televisão os riscos são imensamente maiores, principalmente revisitar uma versão da história que não foi tão bem aceita pelo público. É nesse momento que o embate entre as versões é inevitável. O mundo sombrio de Sabrina é lançado no mês do halloween, prometendo distanciamento da versão antiga e um horror genuíno, mas fica numa zona morna, entregando o mesmo romance já conhecido apenas obscurecido por elementos visuais.
Ainda assim a produção assinada pela Warner Bros. Television para a Netflix entrega um visual primoroso, com uma direção de arte que traduziu brilhantemente o visual dos quadrinhos para a TV. A fotografia não comete nenhum pecado nos 10 episódios, muito pelo contrário, faz de cada episódio um espetáculo a ser degustado minuto a minuto. Roberto Aguirre-Sacasa, Greg Berlanti, Sarah Schechter, Jon Goldwater e Lee Toland Krieger, produtores executivos da série, garantiram a mão de ferro que o resultado final fosse impecável, e conseguiram.
Um grande ponto da produção é a seleção do elenco, que não poderia ser mais assertiva, deixando o destaque para a atriz Kiernan Shipka, que entrega uma Sabrina Spellman multifacetada e carismática, segurando o protagonismo sem esforço. Outro grande destaque fica para a atriz Michelle Gomez no papel de Mary Wardwell ou Madame Satã (spoiler), que constrói uma vilã de forma magistral, entregando as várias camadas de sua personagem aos poucos; sem nenhuma dúvida as melhores cenas da série tem sua atuação no comando.
Por fim, O mundo sombrio de Sabrina convence como entretenimento de halloween, tipicamente americano e adolescente, que mistura fórmulas românticas e dramáticas previsíveis com generosas doses de mistério e soft-trash. Entretanto, ela peca ao prometer um mundo sombrio que só se faz presente no silêncio de Salém e no dedo imóvel de Sabrina.
https://www.youtube.com/watch?v=c1N3tpnmy-c
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Jornalista formado pela UNP – Universidade potiguar – é assessor de imprensa corporativa da Us Comunicação e já escreveu em diversos portais sobre os mais variados assuntos. Hoje escreve sobre sua maior paixão no Apartamento 702, a sétima arte. Venera café, livros, filmes empoeirados, plot twists e hoje protagoniza um spin-off de vida fitness.