Dia 20 de outubro é conhecido como Dia do Poeta. E o Brasil, com uma grande safra de bons poetas, tem muito a festejar.
Para celebrar, confira uma seleção de 8 poemas de 8 poetas contemporâneos de diversas partes do Brasil.
1. “eu durmo comigo”, de Angélica Freitas
“eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado”
2. “Romance em 12 linhas”, de Bruna Beber
“quanto tempo falta pra gente se ver hoje
quanto tempo falta pra gente se ver logo
quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
quanto tempo falta pra gente não querer se ver
quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu”
3. ” Eu te amo”, de Dimitri BR
4. “Sobre não saber do que se trata um sarau de poesia hoje”, de Pedro Rocha
“topa palavra a massa
quanto mais se alastra
esgarça garganta
o desenho que o poema vasta
banda é bem bom
mas um poema é catapultaquiupariu
o nervo exposto
poema quando o poeta cabula
trabalha dentro dos caras
querendo aquele deslize
que rasga a gaveta de carne
do poeta de frente
o bicho de asa
que o poema vasa
sarra genial
com a força de um toque genital
a veia que vigia o voo
cobra calada espinha dorsal
boceta que pensa
com a cabeça do pau
chato é teatro
música fácil
o poema é volátil”
5. “Um manifesto, nem isso”, de Italo Diblasi
“Hoje é o aniversário da execução
de García Lorca e se alguma coisa
mudou desde então, foi pra pior
eu estou na Central do Brasil
esperando que alguém me ligue
não tenho vontade de voltar para casa
não tenho vontade de ir trabalhar
não tenho vontade de quase nada
e espero me apaixonar nos próximos minutos
há qualquer coisa de perverso em tudo isso
penso em Antônio Conselheiro
e em seu cadáver profanado
uma vez o eremita me sorriu
em uma carta de tarô e desde então
tenho colecionado abandonos
ocorre-me que talvez estejamos
ocorre-me que talvez sejamos
tenho profetizado o fim dos tempos
é quando estou mais feliz, eu me digo,
basta desse teatro – vamos ver
até onde eles estão dispostos
e eles estão dispostos a levar
desde que não tenham que fazer
acontecer com as próprias mãos
quando eu era pequeno a minha avó
matou um porco com as próprias mãos
a mesma avó que me limpava o rabo
e que agora não existe mais
admiro o silêncio forçado dos santos
o perigo mortal de um pulmão que respira
e agora essas crises de riso
que me acometem como o chorar
mas eu sou mais forte que isso
eu estou estudando a tristeza
eu sempre fui bom de estudar
eu sempre fui bom em ser triste
há dias em que sinto certo nojo
gostaria que todos menstruassem
às vezes recordo as pessoas
que amei e me pergunto se elas
estão mais felizes que isso
preciso logo colocar uma filha no mundo.”
6. “Antiguidade d’onde viemos”, de Ana Elisa Ribeiro
7. “Belo Horizonte”, de Ana Martins Marques
Um dia vou aprender a partir
Um dia vou aprender a ficar
8. “Coração sobre cama”, de Laura Liuzzi
descansa sobre os lençóis
Enquanto canto bem baixinho
os batimentos desaceleram
lentamente, quase imperceptível
até a voz sumir entre os lençóis.
e os jornais o carteiro as babás
colocarão as coisas no lugar:
os lençóis na lavanderia.”
Como previsível a uma diversidade dos poemas, frases vivas e com sentidos profundos. Um apelo a temas da atualidade com palavras diversificadas. Adorei a poesia da Laura e da Ana M. Marques.