Tá, eu sei que de fato, realmente, não lhe disse nada, foi um diálogo telepático, incompleto e entrecortado por ruído de carros, mas foi um diálogo, se você entendeu é diálogo, minha professora Kalline — eu lembro muito bem — falou que se o comunicante comunicou o comunicado e o recebedor recebeu o que era pra ser recebido, teve conversa aí.
A conversa é que eu não quero mais conversa.
Sempre que a tinta tá quase seca você passa e esbarra levando toda demão. sempre que a casquinha da ferida tá fechando. sempre que eu tô quase esquecendo seu rosto até lembrar que eu te amo.
Eu te amo por telepatia e sei que você sentiu. você senta do meu lado e sente antes de mim, antes que eu me desse conta, antes que eu desça do degrau que me faz enxergar a vida lá na frente, consciente, tudo sob controle. Eu te amo e não vi mais nada além de você desaparecendo no meio da multidão. Tá corrindo pra trás.
Eu te amo por osmose e odeio eus te amos porque sempre é sobre isso que escrevem os escritores todos e eu sempre odiei a irremediável sina de ser mais uma. Eu-te-amo-urgente, mas espero. eu-te-amo-pra-sempre-sem-data só que agora azedou. eu-te-amo-fio-desencapado-
Ainda lateja todo dia o nó na garganta que me ata a você, mas acho que dessa vez decidi por engoli-lo, dar o goto, empurrar peristalticamente pra baixo, rezando pra que meu estomago ácido de café digira-o por mim.
Ee amo, te amo, te amo, mas preciso afrouxar esse laço.
O não-papo era sobre o fim de papo. o que a gente ainda protela tentando achar significados em gestos desajeitados por aqui?