Eu que nem gosto de musicais fui ver este mesmo assim, pois o filme estava lá concorrendo ao Globo de Ouro, além de ser um clássico. Pensei que odiaria. Ledo engano.
O Clássico e sua História
A Disney já vem requentando seus clássicos para live action há um tempo, no entanto um deles parecia ser intocável: Mary Poppins. Isso porque o musical de 1964 é um clássico daqueles imbatíveis. Inspirado por uma série de livros homônimos do escritor P. L. Travelers, o filme rendeu a Disney 5 Oscars, sendo uma das produções mais premiadas da história do estúdio.
Julie Andrews, que interpretou a própria Mary Poppins, foi escolhida a dedo pelo próprio Walt Disney ao vê-la atuando em uma peça em exibição na Brodway. Mesmo com a revelação de que Andrews estava grávida, as gravações foram adiadas e para que ela aceitasse, Disney propôs um passeio para o casal conhecer a Disneylândia. E deu certo, Andrews ascendeu na carreira e arrematou o Oscar de Melhor Atriz.
E não foi só por causa de um bom elenco que o clássico se destacou, para época Mary Poppins promoveu uma revolução no quesito efeitos visuais, arrematando mais um Oscar nesta categoria e ganhando status de marco graças às misturas de animação e personagens reais. Não é a toa que foi eleito pela American Film Institute (AFI) o sexto melhor musical já feito no cinema americano.
Agora me digam como competir com uma obra tão renomada e icônica?
O Retorno e seus desafios
Dessa vez a história se passa 25 anos depois da trama original. Mary Poppins retorna dos céus para ajudar Michael e Jane Banks, que agora são adultos trabalhadores, possuem uma família e grandes problemas para serem resolvidos durante a época da Grande Depressão. Junto ao acendedor de lampiões mais otimista de todos os tempos: Jack, a babá envolve as crianças em grandes aventuras cheia de lições e ensinamentos.
Assim como o filme antigo, o de 2018 também é um musical, apesar disso não tem a pretensão de ser superior ou mudar a história já contada. Entendemos como uma homenagem cheia de referências ao original. Fazendo um excelente trabalho sem pretensões revolucionárias e respeitando a obra. O primeiro aspecto de consideração é a escolha acertada do elenco que conta com Lin-Manuel Miranda e Emily Blunt, que faz um incrível trabalho de atuação passando confiança, rigidez e sutileza no olhar de uma maneira natural, além de apresentar-se muito bem nos números musicais e de dança.
Os efeitos especiais são nostálgicos, mas bem feitos. Está bem claro que há referência setentista nos momentos lúdicos, mas sem nenhuma perda de qualidade, nem mesmo quando misturam personagens reais e desenhos animados. Tudo com muito contexto carregado pelas músicas, que sempre dedicam alguma reflexão.
O números musicais é o ponto mais criticado da obra, isso porque as músicas realmente não são marcantes, mas cumprem o seu papel. Particularmente, eu não gosto de musicais, mas gosto bastante da maneira como são inseridas em momentos coerentes.
Quando falamos do Retorno de Mary Poppins, percebo que a maior divergência nas críticas são sobre o quão o filme é infantil, ou não. Alguns acham que as mensagens são lúdicas e muito fortes, que as crianças não as entenderiam. Já outros acreditam que toda a mensagem e trama são focadas demais nas crianças. Na sessão em que assisti só tinham adultos encantados e nostálgicos, olhando para o telão com cara de bobos. No entanto, acredito que a magia deste filme para as crianças é justamente essa, mesmo que elas não compreendam as mensagens de forma clara, elas são passadas para que aprendam as lições e fiquem em seu subconsciente. Já os adultos são pegos pela beleza dos aspectos profundos e emocionais anestésicos que a o filme passa com grande competência.
E porque não está no Oscar?
Na verdade o filme está lá em quatro categorias técnicas e possui grandes chances de faturar algo como Melhor Trilha Sonora Original, por exemplo. O grande problema foi o não reconhecimento de Emily Blunt com uma indicação de melhor atriz, já que ela não só canta e dança muito bem, como possui expressões perfeitas e contrastantes em todo o filme, muitas vezes com uma cara rígida sorri com os olhos, ou passa tristeza de uma maneira tão singela, que é tocante. Claro que existem ótimas atrizes no páreo, mas o sentimento de injustiça fica em quem reconhece o trabalho incrível dessa atriz.