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Porque você deveria mochilar e se (des)encontrar por aí

Quem me conhece sabe o quanto sou ansiosa e “ligeiramente” controladora. Não é fácil ser alguém que planeja, mentalmente, até o seu café da manhã da semana que vem, e confesso, são características que tento apaziguar desde que me entendo por gente (ou pelo menos, desde uma fase de amadurecimento).

Em contraponto, sou uma neurótica que ama viajar.

Nessa controvérsia pessoal, acabei recebendo um convite tentador para mochilar com três amigos, mas, pela primeira vez na minha vida, sem passagem de volta comprada e com pouquíssimas certezas. Confesso que aquele diabinho neurótico que vive dentro de mim, gritou “Miga, sua louca, não vá! Você pode nem encontrar uma maneira acessível de voltar, ou até de se hospedar e acabar ficar presa no meio da Bolívia”.

Obviamente, o meu lado viajeiro venceu essa luta e lá fui eu, com uma mochila de estampa de oncinha e 10 kg nas costas. Além de uma escoliose, uma tendinite e muita falta de jeito!

Ah, viajar… Conhecer novas culturas e se conhecer como um reflexo de uma experiência tão intensa, tudo isso através da vida de outras pessoas que vivem realidades tão distintas da sua. Se perceber tão pequeno e tão grande, se questionar e se perder para só depois se reencontrar, e por fim, moldar quem você é e nunca mais voltar a ser o mesmo.

Não pense que estou afirmando que será fácil, muito pelo contrário, será desafiador. Em algum momento tudo irá dar errado, você estará a 5.600 metros acima do nível do mar e simplesmente não irá conseguir respirar. Neste instante, você irá repetir incansavelmente que chegou ao seu limite e se questionar “Por que diabos sai do conforto da minha rede e vim para esse lugar do inferno aonde nem subir uma escada consigo?”.

Você terá que abdicar da sua zona de conforto, será sacudido à força, e um dia irá faltar água, energia, e principalmente disposição para continuar.

E logo depois, algo acontecerá, você irá arrancar forças para não desistir e vai se surpreender consigo. E simplesmente vai ultrapassar aquela linha tênue a qual determinou mentalmente que era seu limite, e irá sorrir o sorriso mais genuíno por perceber que você acabou de quebrar mais uma barreira interna.

Você será uma pessoa mais forte, e principalmente, mais sua, por ter convivido com todos os seus questionamentos, com todas suas incertezas, e quando se deparar com uma paisagem estonteante não irá somente tirar uma foto, irá parar por um segundo para reconhecer a dimensão daquela beleza e de todo o esforço necessário para chegar até ali. Em seguida, se perceberá tão pequeno por se sentir importante por ter feito uma coisa minúscula. Ah, e será tão lindo esse misto de emoções e sentimentos, porque você conseguiu domar tudo isso sozinho!

Então, escrevo especialmente para você que é ansioso (a), neurótico (a), compulsivo (a), descontrolado (a): se permita se perder, se permita sair por este mundo sem saber como irá voltar. O acúmulo de todas estas aventuras irá mudar quem você é, irá fazer você conviver consigo e com todas as pessoas que vivem dentro de você. E acredite, você irá se (des)encontrar!

 

2 comentários em “Porque você deveria mochilar e se (des)encontrar por aí”

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