Digamos, hipoteticamente, que você é mulher, não importa a idade, a orientação sexual, importa se você tem o anseio de viajar, aquela voracidade que pulsa nas suas veias, aquela fome de desconhecido que te corrói por dentro. Mas você passou sua vida com receio de viajar sozinha, foi educada para crer que precisa se sujeitar à disponibilidade e vontade de terceiros para sair da sua zona de conforto direto para outra cidade.
Primeiramente, ouvimos cinquenta vezes antes de pegar um avião, trem, ônibus, o quanto é perigoso ser mulher no quesito segurança. Ainda somos cercadas de preconceitos acerca de como somos frágeis, indefesas, desorientadas e que necessitamos de um “homem” para carregar nossas malas/bolsas e nécessaires (que nas histórias fantasiosas sempre são numerosas).
Tenho só meus 20 anos e poucos meses, e, acredite em mim, essa é a segunda vez que viajo só para fora do Brasil (primeira, Europa e nesse último mês, América do Sul) e não é nenhum bicho de sete cabeças. Comece a se despir desses seus próprios medos de tachar quem viaja só de “louca varrida” (apesar de precisar de um pouco de loucura inicial), de que não tem amigos e família (pois, eu tenho ambos, muito obrigada), ou que é rica e viaja com toda assistência do mundo (sonho meu, mas vivo com uma realidade bem distinta).
Segundo, o que você precisa pra viajar sozinha? Coragem e uma boa promoção de passagem pra te motivar. Depois de comprar a passagem, você vai ter todo cuidado para escolher um hostel bem localizado, já que ninguém é besta para dar mole a algum tipo de engraçadinho que quer se aproveitar de mulheres andando sozinhas. E se você se perguntar como escolher uma hospedagem boa a quilômetros de distância da sua cadeira, eu tenho alguns critérios básicos: entro no bom e velho Booking.com e seleciono hostels com notas acima de 8.
Depois desse pré critério, olho três coisinhas: se tem wi-fi grátis (algo indispensável quando você está acompanhada apenas das pessoas que moram dentro de você), se é perto de um transporte público (normalmente metrô) e leio atentamente os comentários das pessoas que já foram lá (parte decisiva, já que preciso de algum tipo de certeza e as pessoas não têm medo de criticar com força quando não gostam).
Terceiro, muitos se perguntam o porquê de euzinha, linda e ruiva, sempre preferir ficar em albergue. Lá vai a revelação para você que nunca ficou, e quem ficou vai concordar comigo na hora: hostel é o melhor lugar do mundo para conhecer pessoas que estão viajando sozinhas ou em grupo, geralmente com pouco dinheiro, mas te recebem com uma família, pois não têm a mínima frescura. Além do preço, que te possibilita uma economia linda das dilmas/obamas/euros e etc.
Quarto, mala ou mochila? Não, eu não sou mochileira, eu não saio sem um bom corretivo, adoro minhas roupas e sempre compro pelo menos umas cinco novas em viagem (Santa H&M que o diga). Porém… tento economizar no tamanho da mala, já que preciso lembrar que viverei uma relação de amor e ódio durante os dias da viagem com essa bendita bagagem. Não ouse levar uma mala que você não consiga levantar em todas as escadas do metrô, ou pelo menos do taxi para o aeroporto e do ônibus para o hostel. E por favor, traga ela meio cheia, nunca lotada, nunca esqueça que existe free shop.
Um aliado: seu celular (smartphone com possibilidade de aplicativos salvadores, afinal, obrigada por viver no século XXI). Falando por mim, não sou uma pessoa lá muito orientada, e isso pode ser um problema na hora de estar sozinha num país estranho, o qual não falo a língua. Só que tudo é uma questão de hábito e de entender como o seu cérebro processa informação; aprendi que mapa com ilustração e pontos de referência facilitam o aprendizado de crianças e o MEU. Além do lindo Google Indoor Maps (este está disponível para diversos países e mostra até o que tem dentro dos grandes edifícios), o qual tiro print e fico olhando as localidades mesmo sem 3G. E sim, pergunto até na padaria se tem Wi-fi para olhar a localização.
Quebrando alguns tabus:
– Não, você não irá passar sua viagem toda sem se comunicar com ninguém. Muito pelo contrário, você será obrigada a conhecer pessoas para sobreviver. Dos viajantes do hostel, ao cara que você vai pedir informação perdida na rua. Além do que parece que as pessoas se sentem atraídas por questionar e se intrometer na vida de estranhos que estão sozinhos num bar, é um fenômeno que estudarei depois. Você vai sair como semi-desconhecidos em passeios incríveis, você vai conhecer mil e cinco brasileiros, que parecem uma praga em todo país, e você irá sair sozinha sim, afinal, que eu saiba você teoricamente é uma pessoa independente e não nasceu ligada a um irmão siamês (eu que sou levemente perturbada, nunca estou só, porque aquelas várias pessoas que habitam dentro de mim são contraditórias e ficam discutindo até para que direção tomar).
– Não, você não vai ficar sem fotos da viagem. Tenho um cabo dobrável de até 1,20m para minha câmera, e por isso vivia tirando selfies no meio da rua. Afinal, cara de pau é indispensável para viajar sozinha, seja tirando fotos suas ou pedindo em várias línguas para desconhecidos – ou pessoas que você conheceu em no máximo dias – tirar fotos suas nos ângulos corretos e pegando o monumento atrás.
– Você vai sim escutar durante vários dias antes da sua viagem, durante e depois, pessoas te questionando porque você está viajando sozinha, só que depois dela você vai trocar esses questionamentos por histórias incríveis de como você conheceu um japonês na argentina, ou de como você falou que precisava de uma colher no chile e não sabia que isso significava que você estava gritando que precisava transar.
Finalizando, não deixe de viajar sozinha por medo, saiba que você pode morrer engasgada com sua própria saliva sem nunca ter saído da sua casa. Nasci mulher e amo até odiar ter esse gênero às vezes, nunca me privei de nada na vida por ter peitos. Não deixe que a sociedade te cubra de medos, você pode lidar com eles tendo um pouco de atenção.
Viajar sozinha vai fazer você realmente se conhecer melhor, você terá que lidar com você mesma, sem ajuda, se forçará a ser “safa”, será obrigada a mergulhar em outro universo, conhecer outra cultura e você irá ficar viciada. E mesmo se você estiver por lá perdida, o pior seria nunca ter partido e se permitido.
Publicitária formada pela UFRN, Master Jedi em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pela ESPM, Head of Marketing and Branding na ESIG Group e Sócia Administradora do blog regional Apartamento 702. Comunicóloga, cinéfila, intolerante a lactose e a seres humanos antivacina, metida a blogueira nas horas vagas.
"Não deixe que a sociedade te cubra de medos, você pode lidar com eles tendo um pouco de atenção." <3
Um guia simples sobre como viajar linda, precavida e empoderada (e algumas verdades pra vida toda) 🙂
Acredite, nós homens, pelo menos eu, também passamos – passo – por isso.
Adorei o texto e as ótimas dicas, sempre é bom conhecer experiências de quem igualmente adora viajar sozinho!
Amei o texto. To louca para sair por ir… agora só falta juntar umas Dilmas.