Redescobrir como se posicionar no mundo dos solteiros após um relacionamento nunca é uma tarefa fácil. Agora, imagine ter que se reposicionar após um casamento de 17 anos e das significativas mudanças na forma de flertar, de agir, de criar laços e conceber relações que aconteceram no decorrer de todos esses anos. Afinal, o que é Grinder?
Esses são alguns dos questionamentos e dúvidas do Michael Lawson, personagem interpretado pelo sensacional Neil Patrick Harris, um corretor de imóveis de Nova York que se vê órfão do seu longo relacionamento após levar um pé na bunda do seu namorado, Colin – interpretado por Tuc Watkins – sem nenhuma explicação aparente. E como tudo que é ruim pode piorar um pouco mais, a revelação do término acontece durante a festa surpresa de 50 anos que Michael preparou para Colin.
É através desse revés do destino que a miscelânea de acontecimentos engraçados, mas profundamente assertivos e reais para a comunidade Gay, começam a se desenrolar na vida de Michael. Tudo isso enquanto ainda se sofre pela perda e a relação finalizada assombra sua vida. É importante pontuar que: apesar dos términos de relacionamentos serem igualmente dolorosos para os seres humanos que se relacionam romanticamente , independente da sexualidade, a forma com que lidamos (a comunidade gay) com essas dores são indiscutivelmente particulares e acontecem de maneiras distintas dos demais. Dramas são recorrentes. Risos.
Uncoupled – a nova produção da Netflix chancelada pelo Darren Star, mesmo criador de séries como Emily em Paris, Barrados no Baile e a clássica Sex and The City – acerta ao usar as questões românticas, de términos e dores de amor apenas como plano de fundo para tratar questões profundas que carecem de atenção e algum pensamento crítico pela comunidade gay. Um desses temas é o etarismo e a relação problemática com a beleza, o tempo, a juventude e a velhice que homens gays carregam ao longo de suas vidas. Se nosso valor como indivíduo na comunidade é medido por tais fatores, será possível encontrar o amor quando o tempo já bateu a porta e a beleza burra da juventude não se faz mais presente?
É passeando por essas questões que Darren Star faz história na produção dessa série concebendo algo realmente raro entre títulos LGBTQIA+. Já que, ao tratar de questões delicadas durante as histórias que se desenrolam, há um ganho significativo no desenvolvimento dos personagens, que é um dos alicerces mais importantes na construção de uma obra memorável. Nesse lugar não há falhas.
Mas, ainda que problemáticas surjam entre as situações do nosso protagonista, a série consegue divertir com clichês já conhecidos pelo público. O término, o ex que stalkeia nas redes sociais, as proibições de contato dos amigos e todo o restante nesses lugares rendem um bom número de situações constrangedoras que funcionam muito bem em tela por conta do impressionante ritmo de comédia do Neil Patrick Harris.
Ao lado dos protagonistas ainda temos no elenco, dando superte pra que toda comédia aconteça com precisão, a Tisha Campbell (a Janet de “Eu, a Patroa e as Crianças), como a melhor amiga de Michael, Suzanne; Brooks Ashmanskas (de The Good Wife), como Stanley, e Emerson Brooks (da série MacGyver). Todos com uma química na tela que é inegável.
Uncoupled acerta no todo. Porque apesar de muitas obras já terem utilizado corações partidos e a jornada de personagens pela sua nova vida de solteiro, essa série acrescenta ao gênero minúcias das temática LGBTQIA+ nunca visitadas antes por tais caminhos. É uma obra pronta pra despertar bons gatilhos em nós gays, muitos até inéditos.
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Jornalista formado pela UNP – Universidade potiguar – é assessor de imprensa corporativa da Us Comunicação e já escreveu em diversos portais sobre os mais variados assuntos. Hoje escreve sobre sua maior paixão no Apartamento 702, a sétima arte. Venera café, livros, filmes empoeirados, plot twists e hoje protagoniza um spin-off de vida fitness.