Tem uma coisa que nem todo mundo entendeu ainda.
Quando uma mulher é convidada para uma mesa literária, ela não está ali porque seu companheiro é famoso, seu pai é um autor importante ou porque ela tem belas pernas.
Quando uma mulher fala durante horas sobre poesia, política e artes visuais, o comentário final dos companheiros de mesa ou da plateia não devem ser sobre seu novo corte de cabelo, sua roupa ou seu status de relacionamento.
Quando uma mulher é a única mulher numa mesa literária, também é preciso rever alguns pontos. Porque as mulheres estão com tudo na literatura, publicando e se destacando inclusive fora do país, como as poetas Alice Ruiz, Angélica Freitas, Adelaide Ivánova e Carla Diacov. Mas, na maioria avassaladora dos festivais, a programação apresenta uma avassaladora dissonância entre nomes de homens e mulheres.
Eu comecei a ser convidada para eventos de literatura aos 13 anos. Hoje, aos 16, muita coisa mudou: meu repertório, minhas falas, meu trabalho. O que permanece intacto é o costume dos homens em esquecer, em momentos oportunos, que respeito é importante e eu tenho 16 anos. Explico: Sendo mulher e muito jovem, acham que não posso escrever sobre sexo, falar palavrão, usar determinada cor de batom. Tem até quem ache que mulher não pode escrever. Mas todo o pudor e a moral da tradicional e recatada família brasileira some no inbox e no bastidor. Homens que podiam ser meus avôs comentam sobre minha bunda. Me mandam mensagens de madrugada. Fingem que querem comprar um livro e me abraçam de um jeito estranho.
O que as pessoas realmente não entenderam é que não somos um objeto. Não somos um enfeite. Não estamos no palco feito a moldura de um quadro. Não queremos – nem vamos! – responder perguntas do tipo maquiagem ou namorado.
Nós estamos na literatura porque a literatura é o nosso lugar. Assim como a política, a tecnologia, a ciência, a comunicação, o esporte, a engenharia, a medicina…
A presença das mulheres nos palcos, nos palanques e nos prêmios está só começando. Felizmente, vem muito mais mulher por aí. Resta, ao mundo, se preparar. Porque é uma força jamais presenciada. E todos vão ter que se acostumar.