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Quando, do nada, os amores batem na porta e pedem para recomeçar

Me pediu para eu deixar de ser tão apaixonada, pelo menos assim, publicamente. Que ele sentia ciúmes demais, e me queria demais, ainda. Não queria me ver com outra pessoa. Que não sabia por que, não sabia por que tudo de nós tinha ficado assim, por que tudo era assim até então: os ciúmes e mais.

Nove anos já tinham se passado. E só nesse dia ele veio dizer que havia uma falta real, e ciúme real também. Que isso era porque ainda gostava de mim, porque nunca tínhamos conseguido ficar juntos, porque sempre nos desencontramos ao longo dos anos (da década); nossos relógios nunca sincronizaram um com o outro todo esse tempo.

E perguntei por que esperar nove anos para dizer que me gostava, se eu estava gostando dele até anteontem, e achei que ele não me gostava já há nove anos. Poderia ter sido tudo diferente. Poderia ter sido tudo diferente, ele diz, ele sabe, e repete que tem ciúmes e que ainda gosta. Que existe algo mais; que eu mexo com ele de alguma forma, que eu estou nos sonhos e aonde ele vai. E eu tenho que dizer que gostaria de ter ido com ele aonde quer que ele fosse.

E diz que acha que ainda gosta de mim, pra logo dizer que ainda gosta, sim, que ainda sente tudo, e pede que eu não o julgue por isso, nem pelo segredo todo, pelos nove anos passados em absoluto silêncio.

A gente foi tão covarde.

Digo que ele precisa resolver isso duma vez, que nove anos é tempo demais pra não se esquecer alguém, e que é desastroso demais ter de confessar isso quando as vidas são novas, a década é quase outra também. Ele diz que eu resumi tudo a um tratar; e que não há nada para resolver, que não quer nem vai resolver coisa alguma. E conta que gosta é de quando eu faço parte, porque é para eu ir com ele aonde quer que ele vá. Como nos últimos anos.

Dez dias depois, fez seu pedido de casamento. A outra mulher.

Nota da edição: Bia Madruga é escritora e está preparando um ebook para ser lançado em breve.

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