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CRÍTICA DOS INDICADOS: Bela Vingança é mais um grito infalível do movimento #MeToo

A indústria do entretenimento é o centro do movimento #MeToo, não só quando falamos dos efeitos práticos do movimento, gerando engajamento e dando aporte a vítimas, como também o principal plano de fundo de relatos de abuso e assédio. O movimento ganhou força em 2017 quando a atriz Alyssa Milano publicou no seu twitter um pedido para que todas as pessoas que já sofreram assédio sexual usassem a hashtag #MeToo. E foi aí que o termo viralizou, ganhou o mundo e culminou em épicos desdobramentos, como a repercussão mundial do caso que envolveu um dos homens mais poderosos nomes de Hollywood, Harvey Weinstein. Ele foi acusado de assediar dezenas de mulheres. Entre elas, atrizes famosas e consagradas.
É nesse ambiente – em que ainda ressoa com força os gritos dos movimentos – que aconteceu o lançamento de “Bela Vingança”, no festival de Sundance. O primeiro filme em que Emerald Fennell atua como diretora. Uma fantasia de vingança feminina que deseja punir abusadores e assediadores de maneira implacável, um filme que causa certa alegria nos expectadores. Estrelado por Carey Mulligan – como a mulher na missão singular de encabeçar a vingança – o filme não pode ser classificado de outra forma, senão uma comédia de humor negro, apesar do debate valioso.

A história de “Bela Vingança” acompanha Cassie (Mulligan) que abandonou a faculdade de medicina aos 30 anos, ainda mora com seus pais (Jennifer Coolidge, Clancy Brown) e trabalha em um café para alimentar seu tédio e o sentimento de perplexidade da sua chefe (Laverne Cox). Cassie não tem ambições profissionais, nem namorado, nem qualquer outro interesse padrão. Ela, no entanto, tem uma espécie de vocação, daquelas secretas.
Toda semana ela se prepara, se veste provocantemente e vai até uma boate onde finge uma embriaguez à espera de um homem que irá simular uma ajuda, mas que na verdade só deseja tirar vantagem de uma mulher vulnerável e fora de suas plenas faculdades. É no momento da investida mais incisiva dos homens que ela se revela. Deixando uma mensagem ameaçadora para que ele jamais tente novamente abusar de uma mulher. A mensagem é efetiva e parece surtir efeito.
A história ganha mais profundidade quando conhecemos os motivos que levaram Cassie a encabeçar essa jornada punitiva, essas razões têm ligação com o destino de Nina, uma amiga de infância que se tornou colega de escola de medicina. A história de Nina é dolorosa – ela foi vítima de uma estupro coletivo – o que torna tudo ainda pior é que nada aconteceu com aqueles que fizeram isso com ela. Toda essa história de pavor fez com que Cassie reduzisse sua própria vida a uma espécie de reparação, a fim de garantir que alguma justiça cruzasse o caminho desses criminosos.
Uma história que consegue ser muito interessante do começo ao fim. Mas, que infelizmente se perde algumas vezes nas escolhas da linguagem e na forma com que vai construir as sensações dos espectadores. Emerald Fennell optou por fazer alguma espécie mal acabada de humor em algumas cenas e, em outras, alguma espécie igualmente mal acabada de terror. A escolha dos dois gêneros dentro de uma mesma obra acaba por se anular, não conseguindo chegar nem ao clímax do humor nem do medo. Ambas enfadonhamente embaladas por músicas que vão de Paris Hilton a Spice Girls.
Ainda que exista esse grande defeito em “Bela Vingança”, o filme consegue cumprir seu papel e levar sua mensagem. Tudo abrilhantado pela atuação primorosa, fresca e na medida correta de Carey Mulligan, que conseguiu dar vida e complexas emoções a sua Cassie. Um filme que figura merecidamente entre os indicados ao Oscar, principalmente por causar tanto incômodo nos homens e um justo desconforto na indústria cinematográfica.
O #MeToo segue!
Nota da editora: Infelizmente, o longa não se encontra em nenhum streaming oficial brasileiro, podendo ser alugado na Amazon ou Itunes Store por $ 5,99, em dólar.

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