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Sobre como as coisas são efêmeras e inflamáveis (ou sobre exposições e incêndios)

Ontem, dia 21 de dezembro, quando saiu a notícia do incêndio no Museu da Língua Portuguesa, prometi a mim mesma ser o mais imparcial que conseguisse. Afinal, o que muitos de vocês não sabem é que, além de coadministradora deste blog, sou bisneta de Câmara Cascudo.

A verdade é que quando você vê sua mãe (Daliana Cascudo), sua tia-madrinha (Camilla Cascudo) lutarem a vida inteira para preservar o nome do avô, e conseguirem reunir forças com a Casa da Ribeira (Gustavo Wanderley e Edson Santina) em uma batalha de quase 2 anos para levar a obra de Cascudo a um dos museus mais aclamados do Brasil, o Museu da Língua Portuguesa, e depois de 2 meses em cartaz, você se depara com tudo em chamas, bem, ficou impossível ser imparcial.

Gostaria primeiramente de fazer alguns esclarecimentos. A exposição só foi possível pela luta árdua das pessoas citadas, as quais bateram na porta de muitas empresas com a ajuda da Lei Rouanet, e não perderam as esperanças nem depois de muitas negativas. Segundo, todo o material da exposição intitulada “O Tempo e Eu (e vc)” é cenográfico, advindo de muita pesquisa para duplicar com maestria objetos pessoais do mestre, mas resumindo, todo o acervo original de Cascudo permanece em Natal, no Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo. Por último, todas as minhas lamentações pelo museu e pelas exposições foram esmagadas ao saber da perda do profissional Ronaldo Pereira da Cruz, que como todos os bombeiros, considero nada menos que um herói.

Obviamente depois de tudo virar pó, eu me sinto um pouco pó, me sinto um pouco vazia. Lembro-me da primeira vez que entrei no Museu da Língua Portuguesa. Minha avó me levou criança ao local, como aprendizado de “ser brasileira”, e eu só consegui experimentar aquela sensação de perplexidade e admiração.

 A perda é imensurável, a cultura com certeza chora pela destruição de um dos maiores patrimônios históricos de São Paulo.

Alguns podem pensar que em questão de horas tudo foi destruído, mas queria ter o prazer de falar que apesar de tudo, estas pessoas estão perdidamente enganadas. Está tudo muito bem construído e sedimentado no coração de todos que visitaram, passaram, andaram, e absorveram tais conhecimentos. Afinal, que eu saiba, o que fica mesmo é isso, é a experiência e o conhecimento.

Não vivemos de lamentações e conformismo, por fim, aprendi que ser Cascudo é viver em luta, em luta constante pela preservação e o não esquecimento deste escritor, deste mestre. Queremos agradecer às 48 mil pessoas que saíram das suas casas, seus trabalhos, suas rotinas e foram visitar nossa exposição. Agradecer a minha mãe, minha tia, Gustavo, Edson e todos os profissionais que tornarem este sonho possível. E externar que todas as minhas energias positivas estão concentradas em emanar boas vibrações na reconstrução deste museu que sempre será um dos mais importantes da América Latina.

Acabo este texto com a minha foto favorita da exposição e você pode conferir mais registros de “O Tempo e Eu (E vc)” aqui:
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