Assisti a um filme na semana passada que me trouxe a recordação de um dia passado a vários verões. Nesta ocasião, entre garfadas de pizza e goles de Coca, fui atropelada pela notícia que um conhecido era portador de HIV. Deve-se considerar, mesmo sendo óbvio, a diferença entre ser portador de HIV e de AIDS, a última só aparece para quem não se cuida ou descobriu, infelizmente, anos depois de ser infectado e passou tempo demais sem se medicar.
Eu sabia que ele estava bem de saúde, pois isto era lógico para qualquer um que o via esporadicamente. Minha primeira reação foi questionar se ele sabia quem havia transmitido. Afinal, o que me preocupa não é a saúde do “conhecido x”, uma vez que sei que ele toma os remédios todos os dias e tem a saúde melhor que a minha inclusive, mas sim do “desconhecido y” que transmitiu e resolveu omitir, resolveu esconder, ou até tem medo de fazer o teste por algum pingo de desconfiança. E sabemos que existem inúmeros “desconhecidos y”, “w”, “h” e todas as letras do alfabeto por aí…
Voltando para o filme, este é uma produção da HBO intitulada “The Normal Heart” e no seu elenco aparecem astros como Julia Roberts e Mark Ruffano que interpreta Ned, personagem central que enfrenta a guerra soropositiva da época. O longa se inicia no começo da década de 80 quando vários homossexuais começam a ser infectados por esta doença ainda não diagnosticada e cercada de mitos e preconceitos, delicadamente apelidada de “câncer gay”.
Apesar de epidêmica, a AIDS ainda não recebe a atenção das autoridades e nem verba para pesquisas mais apuradas e você vai assistir 133 min de gritos de socorro do personagem Ned, numa situação de desespero que se reflete na sua relação com os seus amigos e namorado infectados. O ator Mark Ruffano “samba” na cara de todos com a sua atuação notável, demonstrando uma situação crítica de impotência, apesar da sua constante luta.
Vários conceitos infundados presentes no longa hoje já são comprovados como errôneos, tais como a recomendação médica de não beijar alguém com HIV, pois assim você poderá ser infectado também. Essa semana li que é três vezes mais provável ser atingido por um meteorito do que pegar HIV através de sexo com camisinha, com um portador em tratamento e com carga viral indetectável.
Se essas informações já são transmitidas quase por osmose no século XXI, por que os portadores ainda têm medo de assumir serem soropositivos? Por que ainda existem os mesmos olhares no metrô, presentes no final do filme “The Normal Heart”, quando os personagens estavam em fase terminal? Simples e puro preconceito! Apesar de sabermos que temos que utilizar camisinha, não nos aprofundamos no assunto por nos considerar realmente informados. É cômodo para nós permanecer com uma visão superficial e branda sobre o assunto, uma fina camada de dados recebidos pelos meios de comunicação nos parece suficiente.
É engraçado refletirmos que o tema está bastante em foco na mídia atual. Notei o alavancar depois dos inúmeros merecidos Oscar dados para o longa “Dallars Buyers Club”. Logo depois, neste mesmo ano fatídico em que estamos, o canal mais acessada do youtube no Brasil, Porta dos Fundos, produziu uma série intitulada “Viral”, que aborda a condição do portador de HIV de uma maneira descontraída e inusitada. A série de quatro curtos episódios retrata a peregrinação do soropositivo Beto (Grégorio Duvivier), que decide ir à procura das últimas oito mulheres que teve relações sexuais, para então contar a elas que é portador de HIV e propor que as mesmas façam um rápido teste para saberem se foram infectadas ou não.
Ao mesmo tempo em que os debates e discussões sobre o HIV ocorrem, somos surpreendidos com a notícia recente da queda de um avião na Ucrânia com cerca de 100 cientistas e ativistas que tinham como destino a Conferência Internacional sobre a Aids na Austrália. O fato, já mencionado em inúmeras matérias, é que a cura da AIDS poderia estar voando naquele fatídico avião. Coincidência? Conspiração? É inegável que algumas teorias de possíveis conspirações me parecem deveras reais e palpáveis, se você começar a analisar o dinheiro gerado pela “Indústria da AIDS” e as teorias segundo as quais a AIDS só surge em pacientes que fazem uso dos remédios, talvez você passe uns dias sem dormir.
Enquanto a ciência progride e lança nos próximos meses, na Austrália, uma camisinha ainda melhor para combater o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, continuamos estacionados em relação à mentalidade. Um dos reais desafios sobre essa condição é superar o preconceito, as opiniões alheias, que podem, inclusive, levar o portador a se esconder e se auto-discriminar.
É realmente lamentável que mesmo vivendo numa sociedade moderna, efervescente e que adora defender os direitos humanos nas redes sociais, ainda sejamos, na realidade, cercados de estigmas sobre pseudo “minorias”. Em se tratando de um assunto tão delicado quanto à saúde, o preconceito ainda é tão forte que faz as pessoas acreditarem em informações duvidosas como dizer que a simples proximidade física com alguém pode, em determinados casos, comprometer a sua saúde.
Bem, informações não faltam em tempos do “Oráculo Google”, apesar de não podermos confiar cegamente em tudo que é postado na rede. Cabe a cada um de nós desmistificar preconceitos arraigados e difundidos sobre o HIV, para que possamos encarar de frente a questão, com mais honestidade, competência, e, principalmente, respeito. Para mim alguém ser soropositivo é apenas mais um ponto na sua história, um minúsculo ponto.
Quando tratado e medicado, o soropositivo pode ter uma vida absolutamente normal e este “detalhe” não deve servir, de maneira nenhuma, para definir sua personalidade.
Afinal, se você acha que o HIV pode definir quem você é quem precisa de tratamento aqui é você!
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Publicitária formada pela UFRN, Master Jedi em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pela ESPM, Head of Marketing and Branding na ESIG Group e Sócia Administradora do blog regional Apartamento 702. Comunicóloga, cinéfila, intolerante a lactose e a seres humanos antivacina, metida a blogueira nas horas vagas.