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[CRÔNICA] Precisa-se de emprego

Precisa-se de emprego. Qualquer coisa. De auxiliar de almoxarifado até enchedor-de-caçamba-de-gelo da classe média.

Precisa-se de emprego! Um que me ocupe das 8 às 18, com duas horas no meio pro almoço, um que pague bem ou pague mal mas que, todo dia 5, pague para mim. Que me conceda o direito de férias remuneras e plano de saúde e uma gravata bem apertada na minha garganta (pode até ser aquelas com fecho de zíper, nunca soube mesmo dar o nó).

Precisa-se de emprego para impressionar meus amigos da noite, para dizer “deixa que eu pago” sem arrependimentos conseguintes, um job descolado para ser citado no “quem sou eu” das minhas redes sociais porque eu não sou só o que eu como, mas o que eu visto, onde bebo, qual minha agência de viagens e, é claro, quem eu como.

Quero ocupação! E não falo de barracas dispostas em reitorias e diretorias nas instituições de ensino por todo país, não. Não é isso! Eu quero algo que me ocupe ou que me faça parecer ocupado porque qualquer 2 segundos de ócio nesse mundo instagramado é incorreto, é fútil e é errado.

Precisa-se urgentemente e emergencialmente de um trampo para passar várias horas atrás de um birô tentando ganhar a vida enquanto a vida passa e, logo-logo, não há mais vida alguma para ganhar. Precisa-se urgentemente de um trampo automático!

Precisa-se:

– De emprego, mas não de trabalho.

– De estabilidade, mas não de equilíbrio.

– De ensino, mas nunca educação.

– De sexo, gozar nem pensar, tá querendo demais.

– De grife, mas uma que só vista minha falta de estilo próprio.
Aguardo o retorno de vaga pro meu peito intumescido de vagueza,
Att.

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